O que é o Jornalismo ?

No livro Filosofia da Comunicação fizemos o seguinte questionamento: Mas o que é o jornalismo?

O jornalismo é o processo de comunicação de um assunto de interesse público de forma absolutamente imparcial através de um meio qualquer, como a televisão, o jornal, a revista, o rádio ou a internet. A prática do jornalismo é efetuada pelo processo de entrevista entre o profissional de jornalismo ou jornalista e o entrevistado, com o objetivo de receber deste uma informação de interesse público e repassá-la através de seu instrumento de comunicação para a sociedade de forma imparcial, expondo sempre a posição defendida pelo entrevistado sobre um determinado assunto e a posição contrária, deixando a conclusão da comunicação para o leitor, não tirando, portanto, qualquer conclusão sobre o assunto em pauta. A função de um jornal é expor um determinado assunto de interesse público de forma absolutamente imparcial, e não tirar conclusões sobre ele. Do mesmo modo, a função de um jornalista é a de expor um determinado assunto de interesse público de forma absolutamente imparcial e não expor sua opinião particular sobre ele. Se um jornal ou revista começa a expor assuntos de interesse privado das pessoas e de forma absolutamente parcial, o que ela faz não é jornalismo, mas sim a mais hedionda fofoca.

Mas qual a diferença entre o jornalismo e a fofoca? Acaso não é o jornalismo tão somente uma fofoca profissionalizada? Ora, a diferença básica fundamental entre o jornalismo e a fofoca está no fato de que o jornalismo produz comunicação de interesse público de forma imparcial, enquanto que a fofoca produz comunicação de interesse particular de forma parcial. Mas se um jornal ou revista assim como a Veja, por exemplo, produz informação de interesse público, porém de forma absolutamente parcial, o que então ela produz, jornalismo ou fofoca? Neste caso, ela produz um tipo de jornalismo parcial, não sendo, portanto, jornalismo, mas também não sendo, no entanto, fofoca, posto que produza comunicação de interesse público, porém de forma absolutamente parcial. E se um jornalista produz uma comunicação de interesse particular do entrevistado, porém de forma absolutamente imparcial, o que então ele produz; jornalismo ou fofoca? Neste caso, ele produz um tipo de fofoca jornalística ou jornalismo fofoqueiro, não sendo, portanto, nem a mais pura fofoca e nem mesmo o mais puro jornalismo. E se uma pessoa produz uma informação de interesse particular e de modo absolutamente parcial, então o que ele produz está bem longe de ser qualquer tipo de jornalismo, sendo tão somente a mais nefasta fofoca, sendo esta a marca primordial de todos esses programas de celebridades e fama em geral; ou seja, o que estes “profissionais” praticam não é jornalismo, mas tão somente a mais pura fofoca, atraindo para si a audiência de pessoas cuja alma está inclinada a calunia e a difamação. Alguém cuja alma não está inclinada à fofoca, calunia e difamação jamais daria audiência a este tipo de programa, mas o condenaria como não sendo jornalismo, mas tão somente a profissionalização da fofoca. Este tipo de programa atrai para si a audiência de pessoas que sentem prazer em falar da vida alheia, do chifre que o vizinho levou da mulher e coisas do gênero, no almoço de domingo, onde entre uma garfada e outra, exercita o mecanismo da projeção, falando da desgraça da vida do outro para não ter de tomar ciência da desgraça da própria vida, isto é, falando do rabo do vizinho para não ter de ver que está sentado em cima do próprio rabo, em outras palavras, jogando pedra no telhado do vizinho para não ter de ver que o seu telhado é de vidro. Teleprogramas como o TV Fama, por exemplo, bem como revistas como Tititi, são a marca de “profissionais” que fazem fofoca aparentando fazer jornalismo.

Mas qual a origem do jornalismo? O mais antigo jornal de que se tem notícia na história foi o Acta Diurna, que surgiu por volta de 69 a.C., a partir do desejo de Júlio Cesar de informar a população sobre fatos sociais e políticos ocorridos no império, como campanhas militares, julgamentos e execuções. As notícias eram colocadas em grandes placas brancas expostas em local de grande acesso ao público. Na China, jornais escritos à mão surgiram no século VIII. Vemos, portanto, que o jornalismo nasceu da necessidade de Júlio César de informar a população de fatos de interesse público, como fatos sociais e políticos ocorridos no império, como campanhas militares, julgamentos e execuções, sendo a comunicação realizada ao público uma comunicação puramente jornalística, posto que fosse de interesse público e não particular de Júlio César, e exposto de forma absolutamente imparcial, não contendo ali as opiniões particulares do Imperador, mas tão somente relatos de fatos sociais e políticos de interesse da sociedade ao qual o Imperador também tinha interesse em comunicar, sejam para recrutar um exército ou simplesmente para informar à população o local e a data de um determinado julgamento ou execução, que na época eram efetuados em público.

Deste modo, fica a nossa indagação: quando foi exatamente que os jornalistas pararam de fazer jornalismo para fazer fofoca? Quando  Johannes Gutenberg (1398 – 1468), em 1447, inventou a imprensa, surgiram os jornais modernos, que tiveram grande circulação entre comerciantes, para a divulgação de notícias mercantis. Aqui o jornalismo iniciado com a Acta Diurna, que é o título do primeiro jornal conhecido na história, ainda era jornalismo. No entanto, com a invenção da imprensa, começaram a surgir jornais sensacionalistas escritos à mão, como o que noticiou as atrocidades ocorridas na Transilvânia, feitas por Vlad Tsepes Drakul, mais conhecido como Conde Drácula, fazendo a comunicação abandonar o jornalismo para fazer fofoca, sendo criado pela primeira vez na história a fofoca jornalística ou jornalismo fofoqueiro, que expõe notícias de interesse público (como a existência de um assassino cruel que está vivendo em sociedade), porém de forma absolutamente parcial (não expondo a posição defendida pelo acusado ou por seu advogado sobre seus crimes, e não deixando a conclusão da comunicação para o leitor como deve ser feita no verdadeiro jornalismo), fazendo surgir dessas notícias sensacionalistas o vampiro mais famoso de toda a história da literatura – o Conde Drácula.

O Conde Drácula pode ter sido inspirado no voivode (príncipe) Vlad Tepes (Vlad III), que nasceu em 1431 e governou o território que corresponde à atual Romênia. Nessa época, a Romênia estava dividida entre o mundo cristão e o mundo muçulmano (Turquia). Vlad III ficou conhecido pela perversidade com que tratava seus inimigos. Embora não fosse um vampiro, sua crueldade alimentava o imaginário de modo que logo passou para o conhecimento popular como um vampiro. O pai de Vlad III, Vlad II, era membro de uma sociedade cristã romana (de Roma) chamada Ordem do Dragão, criada por nobres da região para defender o território da invasão dos turcos otomanos. Por isso Vlad II era chamado de Dracul (dragão), e, por consequência, seu filho passou a ser chamado Draculea (filho do dragão) — a terminação “ea” significa filho. A palavra “dracul”, entretanto, possuía um segundo significado (“diabo”) que foi aplicado aos membros da família Draculea por seus inimigos e possivelmente também por camponeses supersticiosos. Vlad III era conhecido por sua pervesidade e crueldade. Certa vez, dois súditos se esqueceram de tirar o chapéu para reverenciar sua chegada e, por causa disso, Vlad mandou pregar os chapéus em suas cabeças. Também dizem as lendas que um dia Vlad viu um aldeão com a camisa toda suja e lhe perguntou se sua esposa era saudável. O aldeão respondeu que sim e sua mulher teve ambas as mãos decepadas; e Vlad arrumou outra esposa para o aldeão e lhe mostrou o que acontecera com a antiga, para que servisse de exemplo. Vlad tinha prazer em comer em frente a suas vítimas com os corpos empalados, ouvindo seus gritos de agonia. Muitos desses feitos levam a crer que Vlad III é a principal inspiração para o personagem. A crença que o conde Drácula é morto vivo veio de um fato que em uma de suas muitas batalhas ele levou um forte golpe na cabeça, que o deixou em coma. Depois de ver o seu líder cair seus homens bateram em retirada levando consigo seu corpo e antes da fuga ser realizada, Vlad III acordou do coma como se nada tivesse acontecido e logo depois de recobrar os sentidos retornou à batalha levando seu exército à vitória e a uma de suas mais sangrentas batalhas, criando assim a crença que ele havia retornado dos mortos como um morto vivo. (Wikipédia).

A fofoca é um fenômeno de comunicação tão sedutor que não se embrenhou tão somente no jornalismo, já que este se tornou, depois da invenção da imprensa, nada mais do que a profissionalização da fofoca, mas fez-se presente também na filosofia não de um filósofo qualquer, mas sim de um jornalista filósofo ou filósofo jornalista, pois só um jornalista filósofo ou filósofo jornalista poderia realizar a façanha de fazer fofoca enquanto aparenta fazer filosofia.

O conceito de paralaxe cognitiva apresentado por Olavo de Carvalho em seu seminário de filosofia, e que consiste em representar o fenômeno do afastamento entre o eixo da construção teórica do autor e o eixo da sua experiência real, isto é, a discrepância entre a sua teoria e a prática de sua vida pessoal, apesar de ser um conceito que representa um fenômeno real, não passa de um instrumento filosófico falacioso, um argumentum ad hominem, onde alguém procura negar uma proposição ou teoria através do apelo à vida pessoal do autor e não ao conteúdo de sua obra. A paralaxe cognitiva de Olavo de Carvalho é um forte instrumento retórico criado por ele para combater a mente revolucionária, invalidando suas ideias e teorias através do apelo às incoerências entre a vida pessoal do autor e o conteúdo de sua obra. Este é um forte argumento retórico, porém não possui fundamento lógico, pois conclui o valor da proposição com base na vida particular do autor da proposição. A paralaxe cognitiva é apenas uma falácia arquitetada como fenômeno filosófico, ou seja, é o estratagema que Olavo de Carvalho criou para desviar a atenção da obra do autor para a sua vida pessoal, levando o foco da proposição para um elemento externo a ela, que são os elementos da vida pessoal do autor. O pior é que o próprio Olavo de Carvalho não percebeu que ele mesmo caiu em contradição ao formular este conceito. A sentença “O imbecil coletivo” pressupõe que o conjunto de todos os indivíduos possui o atributo da imbecilidade. Com base no paradoxo de Russel, considere o conjunto de indivíduos I como sendo “o conjunto de todos os conjuntos que não se contêm a si próprios como membros”. Formalmente: o indivíduo representado pela letra I é elemento da coletividade representada pela letra C se e só se I não é elemento de I. Em outras palavras, o indivíduo é elemento da coletividade se e só se o indivíduo não é elemento do conjunto de todos os indivíduos.

C = {I / I Ɇ I}

No sistema coletivo, C é um conjunto bem definido de indivíduos. A questão a ser resolvida aqui é a seguinte: será que I se contém a si mesmo? Se sim, não é membro de C de acordo com a definição. Por outro lado, supondo que I não se contém a si mesmo, tem de ser membro de I, de acordo com a definição de I. Desse modo, as afirmações “I é membro de I” e “I não é membro de I” conduzem ambas a contradições. Isso quer dizer que o livro de Olavo de Carvalho intitulado “O imbecil Coletivo – atualidades inculturais brasileiras” estrutura-se através de um paradoxo que iremos denominar de paradoxo do imbecil, pois se o título do livro e a ideia que nele contém afirma que o conjunto de todos os indivíduos brasileiros possui o atributo da imbecilidade, isto quer dizer que o autor do livro, isto é, Olavo de Carvalho, ou é um imbecil ou não faz parte do conjunto de todos os indivíduos brasileiros. Ou Olavo de Carvalho é um imbecil ou ele não é um brasileiro. Se Olavo de Carvalho é um indivíduo brasileiro, então ele também é um imbecil. Por outro lado, se Olavo de Carvalho não é um imbecil, então ele não faz parte do conjunto de todos os indivíduos brasileiros. Ora, fica notório aqui que o próprio conceito de paralaxe cognitiva criado por Olavo de Carvalho apresenta em sua estrutura íntima uma paralaxe cognitiva, pois, ou Olavo de Carvalho está chamando a si mesmo de imbecil ou ele está afirmando não ser um indivíduo brasileiro. Se Olavo de Carvalho faz parte do conjunto de todos os indivíduos brasileiros, então ele é um imbecil. Por outro lado, se Olavo de Carvalho não faz parte do conjunto de todos os indivíduos brasileiros, então ele não é sequer um indivíduo. Portanto, partindo da análise do título do livro de Olavo de Carvalho intitulado “O imbecil Coletivo – atualidades inculturais brasileiras”, que pressupõe a afirmação da sentença “O conjunto de todos os indivíduos do Brasil é um imbecil”, as afirmações “Olavo de Carvalho é um imbecil” e “Olavo de Carvalho não é um imbecil” conduzem ambas a contradições, ou seja, o autor do conceito de paralaxe cognitiva, isto é, Olavo de Carvalho, foi traído por sua própria criação, posto que o próprio Olavo de Carvalho criou com este conceito um afastamento entre o eixo da sua construção teórica e o eixo da sua existência real, como pudemos ver anteriormente, pois ou ele está, com este livro, afirmando ser um imbecil, ou ele está, com este livro, afirmando não ser um indivíduo brasileiro. No entanto, é óbvio que nós temos ciência de que na realidade ao escrever o livro “O imbecil coletivo – atualidades inculturais brasileiras”, Olavo de Carvalho não estava nem chamando a si mesmo de imbecil, posto que ele é uma das mentes filosóficas mais brilhantes e influentes da história da filosofia tupiniquim, cujo trabalho filosófico é de suma importância para a história da filosofia mundial e principalmente para a história da filosofia brasileira, já que Olavo é o responsável pela ressurreição da filosofia no Brasil, e nem afirmando não ser um indivíduo brasileiro, mas estava apenas apresentando ao leitor atento as atualidades inculturais brasileiras. O paradoxo do imbecil apresentado acima pretende apenas demonstrar que o título do livro e a ideia que nele contém constitui em si mesmo um paradoxo, posto que ao se referir à imbecilidade coletiva demonstrada pelas atualidades inculturais brasileiras, Olavo de Carvalho inclui a si mesmo nesta coletividade sem perceber tê-lo feito, já que ele é um dos indivíduos que compõem o conjunto de todos os indivíduos brasileiros, isto é, a coletividade de indivíduos nascidos no Brasil, do qual ele afirma ser um imbecil. Ou seja, o conceito de paralaxe cognitiva é inconsistente por ser ele mesmo uma paralaxe cognitiva, sendo, portanto, um conceito ilícito e falacioso, e justamente por isso nenhum filósofo que se preze deve analisar a veracidade ou falsidade das proposições de outro filósofo apelando para a vida pessoal deste. Um filósofo deve expor as mazelas da filosofia, e não as mazelas de outro filósofo. Não nos cabe julgar a vida pessoal nem o caráter de qualquer filósofo, e muito menos analisar a veracidade ou falsidade de suas proposições e as consequências filosóficas, políticas, econômicas e sociais de suas teorias com base em sua vida particular. A paralaxe cognitiva não passa de um instrumento retórico e sofístico que permite ao filósofo fazer fofoca enquanto aparenta fazer filosofia. Só um jornalista poderia ter inventado tal conceito, pois um filósofo que não é jornalista jamais conseguiria realizar tal façanha.

Mas qual é a matéria-prima do jornalismo? É a notícia! A notícia é um formato de divulgação de um acontecimento por meios jornalísticos. É a matéria-prima do jornalismo, sendo algum dado ou evento socialmente relevante que merece publicação em algum tipo de mídia. Fatos políticossociaiseconômicosculturaisnaturais, entre outros fatos, trazem consigo o potencial de notícia se for de interesse público e não privado. Em geral, a notícia possui uma natureza negativa, justamente por ser de ordem extraordinária, ou de grande impacto para a sociedade, como acidentes, tragédias, guerras e etc. Notícias nem sempre têm valor jornalístico porque acabaram de acontecer, ou por que não foram noticiadas previamente por nenhum veículo; uma notícia pode muito bem ter valor jornalístico mesmo tendo acontecido a centenas de milhares de anos ou tendo sido noticiada previamente por outro veículo. O valor jornalístico de uma notícia não é medido pelo tempo nem pelo espaço, mas tão somente pela qualidade de ser a notícia de interesse público. A prática do jornalismo pode ser resumida no ato de separar os assuntos de interesse público dos assuntos de interesse privado, noticiando apenas os assuntos de interesse público de forma absolutamente imparcial. Caso contrário não será jornalismo, mas tão somente fofoca.

Dito isto, a validade da prática jornalística se verificará se ela for capaz de esclarecer as obscuridades da notícia e revelar o “quem” e “o que”, bem como o “onde” e o “quando” o “como” e o “porquê” do fato noticiado. Sendo assim, faz-se uma ideia mais precisa do que seja de fato o jornalismo. Os modelos operacionais determinam o que se entende por “fazer jornalismo”. Portanto, fazer “jornalismo” é ser capaz de esclarecer as condições obscuras de uma determinada notícia e revelar o “quem” e “o que”, bem como o “onde” e o “quando” e, por fim, o “como” e o “porquê” do fato noticiado.

O produto da atividade jornalística é geralmente materializado em textos, que recebem diferentes nomenclaturas de acordo com sua natureza e objetivos. Uma matéria é o nome genérico de textos informativos de interesse exclusivamente público resultantes de apuração, incluindo notíciasreportagens e entrevistas. Um jornal sério jamais deve conter um artigo, pois este é um texto dissertativo ou opinativo, não necessariamente sobre notícias, e nem necessariamente escrito por um jornalista. Ou seja, um artigo faz com que o jornal deixe fazer jornalismo para fazer fofoca, expondo um texto eminentemente opinativo, não sendo esta a função de um jornal, posto que este não deva conter em si a opinião própria do jornal ou de uma pessoa em particular, mas tão somente noticiar o fato acontecido de forma absolutamente imparcial. Jornalista não deve dar a opinião sobre o fato que noticia; ele deve tão somente descrever com absoluta isenção opinativa os fatos noticiados. Se um jornalista quer dar em um jornal sua opinião particular, tecendo comentários que demonstram sua posição individual frente à notícia, ele que o faça em seu blog, em seu face book ou em seu twitter, e não em um jornal, pois jornal não é lugar de dar opinião; jornal é lugar de descrever com absoluta isenção os fatos noticiados.

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